sábado, 28 de abril de 2012

A PROVA QUE TE FALTA

A prova que te falta

Se suspeitar de mim, eu nego.
Se me acusar, eu nego.
Se gravar a conversa, eu nego.
Se filmar escondido, eu nego.

Se arranjar testemunha, eu nego.
Se mostrar minha assinatura, eu nego.
Se me pegar de surpresa, eu nego.
Ainda que não creia, eu nego.

Não adianta vir com fatos,
que eu só nego.
E assim vou sonegando até o final,
afinal, só negar é o que eu tenho feito

Por mais que pareça loucura,
grande é minha convicção
e com pulso e bela postura
bancarei essa minha versão

Vou falar naquele plenário
num discurso tão comovente
pra você, meu nobre otário,
saber como se engana a gente

E diante daquela tribuna
o texto já está ensaiado,
entrarei em todas lacunas
pra de lá não sair condenado

Por maior que seja a evidência,
Há um arranjo que me favorece
E a prova de que tu precisas
Nos autos ela não aparece

É assim que funciona o sistema
Prevalece a lei do mercado
E aquele que, antes, ministro,
Agora é o meu advogado

A Justiça é mesmo cega
Acredita o jovem mancebo
Quem sabe um dia ela enxerga
As brechas do seu enredo


Em oração pela cura da ‘cegueira’ conveniente

Marllon Uaki Furtado

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O CRIME DE ENVELHECER

O crime de envelhecer
 
Saudades daqueles tempos
Envelhecer não era crime,
A idade não era um segredo,
Nem algo que nos reprime

Vovó era só uma senhora,
Sem neurose, sem caô,
Sobrepeso e bem nutrida,
E bem ao lado de um vovô

O tempo agora é vilão
Seus efeitos nos caem mal
Nossa imagem agora tudo
É peleja até o final

O tempo, que era aliado,
Com o tempo, foi mexido
Antes, ao nosso lado,
Atualmente, é inimigo

Não aceito esse meu corpo
É o que diz a nossa mente
É preciso consertá-lo
Pois, parece estar doente

Ser jovem é que é o ideal
Me congela nessa imagem
O que tenho que mais vale,
Conteúdo ou embalagem?

É assim que mente o corpo
Relação de corpo e mente
Nessa luta d’ ele e ela
Será que é ele o paciente?

Pelo direito natural de envelhecer (naturalmente)


Marllon Uaki Furtado