sexta-feira, 4 de outubro de 2013

REFÚGIO DE BACO

 Refúgio de Baco

Que lugar é esse onde vejo pessoas se procurando ou, ao contrário, querendo se desencontrar de si próprias?

Que lugar é esse onde surgem palavras, emoções e desejos, onde se expõem veias abertas e corações partidos?

Que lugar é esse, santuário de catarses, onde rir ou chorar é uma questão de tempo, obrigatória ou inevitável?

Lugar onde nos vêm as palavras, letras, canções, poesias e reminiscências mil, onde se deita e se deleita o poeta;

Lugar de noite, de dia, de sol e de lua, refúgio da mente, onde se chega vestida e em minutos já se está nua;

Lugar para comer, beber, dançar, despir-se de si mesma, onde de tudo se faz um pouco e, aos poucos, se desfaz de tudo;

Aqui, se prescinde da sobriedade, se abre mão da lógica, da coerência e da formalidade, porque aqui tudo é volátil.

Assim é esse lugar, talvez seja o refúgio de Baco.


Em homenagem à Lapa, refúgio de poetas, escritores, sambistas e sonhadores.



Marllon Uaki Furtado

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

CATORZE PASSOS

Catorze passos


Caminhando juntos,
Muitos dias felizes,
Alguns infortúnios,
E pausa para reflexão.

Subimos sozinhos
No alto da montanha,
No meio do rio,
Junto ao Dedo de Deus.

No silêncio da mata,
Ao som das águas,
Com canto dos pássaros,
Ouvimos a nós mesmos.

Não só palavras falam,
Não só letras representam,
Olhares também revelam,
Silêncio também acolhe.

Um olhar para frente,
Talvez outro para trás.
Algo na mente,
Toque no coração.

Maturidade a caminho,
Suas leis complicadas,
Só com tempo aceitamos,
Mesmo sem compreender.

Repensar é válido;
Refletir faz parte;
Escute seu coração
Julgue no seu critério.

Talvez conclua algo,
Talvez nada conclua,
Certeza nem sempre há.
Nem tudo cabe na fôrma.

O que vale pra uns,
Não vale pra outros,
Num tempo é assim,
Num outro, não mais.

Ainda que certos,
Às vezes erramos.
Pensamos como homem,
Agimos como menino.

Não olhe mais para trás.
Enfrentemos os percalços,
Sigamos em frente,
Isso é só o começo.

Para mim, não há dúvida.
Meu caminho é contigo,
Persisto na caminhada,
Insisto em nossas vidas.

Desculpe minhas falhas,
Perdoe os meus erros,
Bote tudo numa balança,
E veja o que nos resta.

São só catorze passos,
Há muito a prosseguir,
Se o horizonte é infinito
Quantos passos nos restam?

 Para Daniela Lima Furtado, em 18/09/2013,
a caminho do horizonte.

                         Marllon Uaki Furtado



sábado, 10 de agosto de 2013

ESTRUTURAS

Estruturas


Dizem que, na engenharia, estrutura firme é aquela que balança, que trabalha e, portanto, requer manutenção, clama por reparos. Talvez, a vida também seja um pouco assim. Ou seja, para ser forte, resistente e duradoura é preciso sofrer rachaduras.

Nossas falhas, fendas e abalos são como sinais de revitalização, fazem parte de um processo de amadurecimento e nos mostram que estamos apenas nos solidificando.

Sempre desconfiei de uma linearidade tão tranquila e serena que relutava em dar sinais de crise. Aos poucos, ela vem me mostrando suas facetas outrora ocultas e que, mais cedo ou mais tarde, se manifestam.

Perdas, amarguras, decepções e fracassos também são elementos constitutivos de uma estrutura e, paradoxalmente, a fazem permanecer duradoura e até mesmo eterna.

Na verdade, esses visitantes desagradáveis estão apenas fazendo seu papel e querendo nos dizer algo. Portanto, não rejeite a presença desses elementos em sua estrutura; deixe-os aparecer quando necessário e enxergue-os pelo lado positivo.

Se você não tem dúvidas de que está no lugar certo, quando chegarem, apenas faça o que deve ser feito. Dependendo de seu tratamento, talvez não voltem ou demore décadas para receber nova visita, que desejamos sempre ser a última.

Enfim, saudemos o balançar de uma estrutura como um presente divino para que ela se mantenha firme servindo ao propósito para o qual existe.

RJ, 10/08/2013

Marllon Uaki Furtado


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ASSIM QUE SE MORRE

Assim que se morre



O que é um homem sem sua amada?
É como um poeta sem a palavra,
Nada.

Deixa de ser o que um dia fora;
Deixa de ter o que um dia tivera;
Deixa de ter razão para ser

Deixando de ser, deixa de existir;
É assim que morre um poeta;
É assim que morre um homem

Enfim, é assim que se morre....


Marllon Uaki Furtado

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O INFORTÚNIO DO POETA

O Infortúnio do poeta
(reflexões do exílio)

O que te faz assim, ignorante, que não percebeu antes o mal que causaria à tua amada? Tão contraditório e inapto para lidar com as pessoas mais importantes de tua vida! Talentoso com as letras e desastrado no trato com os que mais importam para ti.

Não percebes que somos feitos de sentimentos, opções e conseqüências de nossos atos? Teu destino está cruzado ao de outras pessoas e, indubitavelmente, não podes andar sozinho ou suscetível aos falsos prazeres, mistérios dos mares e desventuras da vida.

Fizeste uma escolha que, felizmente, te acompanhará para o resto da vida e dela te orgulharás para sempre, por muitas gerações, ainda que não estejas mais entre elas. Desta escolha, frutos advirão e semearão a terra em que habitas, perpetuando seus sobrenomes e guardando vossas memórias em seus corações.

Mas, e agora, diante de teus atos, o que te espera, pobre rapaz?

Só te resta a esperança de não teres partido o último cristal que resistia como suporte deste amor sublime, maior do que os prazeres efêmeros e fraquezas desta vida de homem.

Aprenda com teus erros, tire-os como uma lição. Mas, saiba que, embora eles sejam degraus numa escada de aprendizado e maturidade, podem representar grave risco de queda fatal, que talvez tenha conseqüências irreparáveis para ti e aqueles ao teu redor.

Espero que, desta vez, não tenhas caído num desses possíveis degraus fatais, pois assim ainda poderemos estar juntos em novos textos, poemas, escritos e leituras que contribuam para teu processo de amadurecimento como homem.

Boa sorte, jovem poeta!

Vá agora e faça o que deve ser feito. Talvez ainda haja tempo para isso.....

RJ, 08/08/2013


Marllon Uaki Furtado

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

ENTRE CLIQUES E TOQUES


Entre cliques e toques

Entre as formas de encontro,
Prefira o tato, paladar e olfato.
Se entregue ao toque,
Ao cheiro e à beleza do contato.

Entre o real, ainda que restrito,
E o virtual, ilimitado,
Fique com o primeiro,
Mesmo que raro ou inusitado.

Resista à ditadura do clique,
Lute pela vida do abraço,
Tenha os amigos vivos dentro de si.

Pois, se apenas guarda-os em seu HD,
E se um dia este vier a queimar,
Não mais se lembrarão de ti

Pelo aperto de mãos, abraços e gargalhadas ao vivo, em troca do ‘on line’.


Marllon Uaki Furtado

domingo, 28 de julho de 2013

RETALHOS DE PENSAMENTO (1)

O importante não é chegar.....O importante é ir.



                                                  Frase surgida em viagem de carro a Tiradentes - MG, em 27/07/13.


                                                                                             Marllon Uaki Furtado

quinta-feira, 11 de abril de 2013

ALQUIMIA DO PRAZER


Alquimia do prazer

A vida tem diversos sabores que, como elementos básicos do universo, se misturam numa alquimia do prazer, que faz tudo se tornar melhor.

Há substâncias, aromas, paladares, químicas e outras coisas que compõem a mágica do prazer, algo que não se enquadra em estados da matéria, pois transcende tudo isso.

Assim, se considerarmos nossa existência como um grande ritual que apenas tem que ser vivido e, portanto, que seja da melhor maneira possível, diria que há alguns elementos que não poderiam faltar nesta festa de Baco.

Portanto, traga-me um bom vinho para celebrarmos a vida;

Sirva-nos um café para falarmos sobre qualquer coisa;

Para adoçar a relação, aceite esse chocolate amargo;

Ao preparar a ceia, tempere-a com azeite extra-virgem;

E não se esqueça de acrescentar um toque de pimenta a tudo isso.

E se você acha que falta algo nessa relação, um sexto elemento do prazer da vida, repare que está perto, encontre-o tirando uma letra de uma palavra acima. (É porque isso ninguém precisa ver).

Enfim, um brinde aos sabores e prazeres da vida!


Marllon Uaki Furtado*
*Apreciador (com moderação) da vida

domingo, 3 de março de 2013

ASSIM, DO NADA


Assim, do nada

O ‘nada’ é algo impressionante
É de si mesmo que ele aparece
Trazendo algo que nos acontece
Surpreendente e apaixonante


Não que ele seja um mero algo
Pois é ao mesmo tempo alguém
A quem geralmente digo amém
Pois é tão fino como um fidalgo


És o amigo das horas incertas
Pois quando pareço perdido
Como um amante desiludido
Sempre vens e tudo consertas


Contigo nunca tem tempo ruim
Pois basta olhar pro firmamento
Que faltando letra ou pensamento
A inspiração de ti vem pra mim


Obrigado meu belo amigo
A ti só tenho mesmo a agradecer
Pois aconteça o que acontecer
Tu sempre estarás comigo

Em homenagem à inspiração que vem do ‘nada’

Marllon Uaki Furtado

sábado, 2 de fevereiro de 2013

SENHORA SENSATEZ

Senhora Sensatez,

Permita-me humildemente me dirigir a vossa senhoria para manifestar algumas considerações que não deixaria passar em branco, ao final de minha tranqüila vida.

Sou hoje um respeitável homem, cumpridor dos meus deveres, cidadão urbano de 85 anos, na fronteira da senilidade, convalescente de mais uma dessas doenças típicas da terceira e última idade.

Receio ter pouco tempo de vida pela frente, motivo pelo qual me atrevi a escrever-lhe essa pequena carta.

Gostaria de informar que, por sua causa, jamais me arrisquei em atividades perigosas que pudessem resultar em algo danoso à minha saúde física.

Pensando em você, nunca me atrevi a uma cantada tosca em qualquer mulher que me tenha atraído de primeiro momento na adolescência.

Seguindo seus preceitos, não tomei banho de chuva no primeiro dia do ano, e muito menos joguei futebol na lama com os amigos da rua.

Também deixei de beber um pouco além da conta naquela festa de 15 anos de minha filha e depois de minha neta.

Em momento algum falei algo que pudesse soar como deselegante ou inapropriado nas mais diversas ocasiões em que tive isso engasgado na garganta.

Sempre evitei conflitos ou confrontos que pudessem desgastar uma amizade ou causar qualquer desconforto a outrem.

Por sua causa, desconheço a condição de me arrepender por algo que tenha feito.

Também não tive a oportunidade de conhecer a senhora Ousadia, uma atraente mulher de quem meus colegas sempre falavam em suas conversas de bar.

Hoje, circundando as fronteiras da vida com a morte, repenso em tudo que deixei de fazer ou falar por sua conta, pois sempre fui uma pessoa de fino trato e boa estirpe.

Por tudo isso, nos meus derradeiros momentos de vida terrena, venho a sua ilustre presença para mui respeitosamente dizer-te: Vai pra puta que te pariu.

Assinado: José Prudêncio Arrependido.

Marllon Uaki Furtado

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O POETA SOLDADO


O poeta soldado


Não condene um poeta
Que por ofício é soldado
Esse cabra é de valor
Até mais que um delegado


Fazendo bem o seu trabalho
Não tem porque a punição
Usando a arte no registro
Só abrilhanta o seu plantão


Deixe o cabra liberado
Pois uma coisa eu percebi
A poesia lhe toma a alma
Não cabendo mais em si


É o preço que se paga
São versos de maestria
Seu trabalho sai bem feito
Ainda com um ‘que’ de poesia


Em apoio ao poeta soldado de Contagem, MG.

Marllon Uaki Furtado