terça-feira, 24 de novembro de 2015

AMANHECER-SE

AMANHECER-SE

Apropriar-se de verbos impessoais é o que nos resta quando, mesmo com tamanha riqueza de nossa língua, nos faltam palavras para expressar sensações não contempladas na finitude do vocabulário oficial.

Por isso, entendo Manoel de Barros que, de alma cheia na infinitude das percepções poéticas, não se intimidou de pegar-lhe emprestado o que lhe aprouvesse para externar tanta beleza encarcerada em adjetivos ou verbos limitados.

Talvez seja essa a inquietude poética mais bela que nos faz lançar mão desse recurso lingüístico, seqüestrando palavras de seus significados originais, a serviço da poesia.

Com essa licença poética, não deixamos escorrer por entre os dedos sensações ou inspirações que nos acometem diariamente e que rogam por ganhar corpo por intermédio desse sujeito capaz de expressá-las unicamente por sua beleza de ser.

Por isso, hoje me permiti me amanhecer aos primeiros raios de luz do Sol, me reflorestar no contato com a grama verde, me renascendo de tudo que precisa morrer diariamente, para que algo de bom possa sempre estar se renovando em mim.

É a energia necessária de que preciso para me amanhecer todos os dias, não só para simplesmente existir, mas principalmente para viver.

Que não nos falte o alimento necessário para isso.

Manhã de domingo em Praia Brava, Angra dos Reis, em 22/11/15.

Marllon Uaki Furtado


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

SABEDORIA QUINTANA

Sabedoria Quintana


O sujeito homem esperto
Não procura entender
Se errado ou se tá certo
O que acaba de escrever

Não se enquadra em receita
Desconhece seu rigor
Não prescreve, só aceita
Seja bom ou o que for

Desse jeito então se faz
Sem ter norma, retidão
Busca só o que lhe apraz
Sem certeza, mas paixão

Quem escreve e conceitua
Está querendo explicar
Se ela é minha, se ela é tua
Deixe apenas ela entrar

Talvez, diria o Quintana
Não me peça explicação
Se me ilude, se me engana
Pouco importa ter razão

A poesia não se entrega
A quem a queira definir
Pois então vê se enxerga
Só o prazer de lhe exibir

E assim eu vou fazendo
Escrevendo sem parar
Não repare você lendo
É coincidência isso rimar



Pelo direito de não explicar o inexplicável.

Marllon Uaki Furtado

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

BULA POÉTICA

BULA POÉTICA

Existem combinações de sonhos, letras e ilusões que podem causar reações adversas. Ao se juntarem determinadas palavras ou inspirações e delírios, você pode sintonizar freqüências desconhecidas, despertar inquietudes, suscitar dúvidas, questionar conceitos e provocar estranheza.

O consumidor de tais elementos perigosos estará exposto a uma imprevisível conseqüência, talvez arrebatadora. Poderá este sujeito se encontrar ou se perder em seus efeitos colaterais.

Portanto, esteja atento às suas contra-indicações e pense bem antes de consumi-los:
Acesse seus conceitos e valores, registre sua capacidade de definir, responder e delimitar, lembre-se do quanto você é seguro, inteiro e completo.

Proteja-se contra seus efeitos nocivos antes de embarcar nessa viagem e embriagar-se nas suas incompreensões e incompletudes e, o mais importante de tudo, jamais siga essas recomendações.


Obs.: Este produto é contra-indicado aos que mais se importam com as respostas do que com as questões. A persistirem os sintomas, procure imediatamente a si mesmo e poemize-se.


Marllon Uaki Furtado

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

ATO POÉTICO

ATO POÉTICO

Uma palavra pode ser mal colocada ou algum ato nosso pode ser posteriormente repensado. É compreensível que ações ou omissões sejam passíveis de reparação por parte de seus próprios autores. Ou seja, de tudo isso talvez possamos nos arrepender.

Mas, com a poesia é diferente.

Se um dia não é igual a outro, somos então a cada dia diferentes. Nossas inspirações e percepções, por mais parecidas que sejam, não se repetem.

Assim, é com a poesia. Um ato único que se encerra em si mesmo. Na minha concepção, um ato poético, algo sui generis, irrepreensível, irreparável por sua própria natureza, descompromissado com uma significação necessariamente traduzível.

Por isso, a poesia não nos dá esse direito de nos arrepender ou nos envergonhar futuramente por algo que tenhamos produzido. Normal. Éramos um ontem, somos outro hoje, seremos outrem amanhã e sempre.


Marllon Uaki Furtado

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

SONETO DO GOSTO SIMPLES

Soneto do Gosto Simples

Como é bom ser um homem simples
Para tão simplesmente gostar
Não saber o que outros pensam
E tampouco assim se importar

Meu gosto é então descolado
Pois só gosto do quero gostar
Prefiro as coisas mais simples
A ter alguém a quem adular

Gosto de coisas belas e simples da vida
Da vida simples e bela das coisas
Dos belos gostos da vida simples

Mais vale a beleza tenra de uma flor
Na chuva fina do entardecer
No insensato teatro do amor


Marllon Uaki Furtado


sábado, 17 de outubro de 2015

FASCÍNIO LUNAR

FASCÍNIO LUNAR

Horizontes me atraem, florestas me encantam,
Rios e mares me relaxam, pássaros me distraem,
Mas, a LUA ...
Essa simplesmente me hipnotiza.

Me faltam palavras para tamanho fascínio,
Poder inexplicável que exerce sobre mim.
Na verdade, nem quero encontrá-las
Apenas sentir a emoção que tenho ao vê-la.

Quando sei que estás lá fora,
Nada digo, nada penso,
Apenas saio para admirar-te.

Existem coisas na vida que, para encantar,
não precisam mais do que apenas existir
Uma delas és tu, senhora da noite.
Tua existência alimenta a minha.

Apareça sempre porque sempre estarei lá
Para mais uma mera contemplação
Sem palavras ou teoria,
Sem perguntas, sem razão.
Em homenagem àquela que tem alimentado trovadores, menestréis, poetas de ontem e de hoje, e certamente os de amanhã, por sua inesgotável fonte de inspiração.

Marllon Uaki Furtado

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

RETALHOS DE PENSAMENTO (3)



Na verdade, o mundo precisa é de mais FLORES, AMORES e SABORES.

E você, o que nos tem deixado?

Marllon Uaki Furtado

domingo, 13 de setembro de 2015

MISÉRIA HUMANA

Miséria Humana

A guerra que assola um povo talvez seja pequena diante da miséria que reside na alma das pessoas alheias e insensíveis ao sofrimento do outro que, ao seu ver, é apenas um outro, portanto, um “não eu”, um “não meu”.
Essa noção de pertencimento faz com que nossa dor e compaixão muitas vezes se restrinjam a nós mesmos, aos nossos familiares, amigos, conterrâneos e, quando muito, aos que compartilham uma mesma língua ou nação.
Lamentável que território, nação, língua, cor, religião, etnia façam com que sejamos tão sensíveis com uns e tão indiferentes para outros que não compartilham conosco pelo menos uma dessas condições.
A condição de ser “humano”, para muitos, nada significa diante de tamanha variedade no cardápio das classificações do homem. E são essas inúmeras condições que usamos para acionar nosso coração, ativar nossos sentimentos, tocar nossa alma e mover nossos olhares e ações para determinada pessoa ou grupo.
Tomara que consigamos ampliar nossas fronteiras para além dos rasos limites que impusemos aos nossos corações e olhos, que muito pouco sentem ou enxergam para os que estão além de determinadas fronteiras ou condições outras.
O senhor da guerra deve estar feliz com mais um capítulo da miséria humana.

Em solidariedade às vitimas da guerra.


Marllon Uaki Furtado

domingo, 22 de março de 2015

REVOLTA CLASSE MÍDIA

Revolta Classe Mídia

Tenho visto muitas coisas
Nos jornais, na televisão,
Que apontam um único culpado
Dos males de minha nação.

Acredito em tudo que dizem
Os meios de comunicação.
Exerço então o meu direito
De ‘tão livre’ manifestação.

Sou honesto, sou família,
Sou contra a corrupção.
Protesto nas ruas e mídias
E vomito minha indignação.

Se isso aqui é democracia,
Tudo que penso posso falar.
Não censure minha cólera,
O meu direito de vociferar.

Se tenho fígado,
Se tenho cérebro
Escolho qual deles usar

Se conclamado ao protesto,
Vou pra rua, vou para luta
Contra aquela que detesto,
Chamo de vaca, chamo de puta.

Se as coisas não vão bem,
Elas terão que melhorar.
Já que é obra de um autor,
O culpado tinha que achar.

Se eles apontam pra você,
É em ti que vou mirar,
Despejando raiva e ódio
Para assim me aliviar.

No país, está tudo errado,
Exigimos mudanças já.
Quero tudo muito correto,
Só não peça para eu mudar,

A revolta é contra ti
Porque a ti posso culpar
E me absolvo de disso tudo,
Nada tenho a confessar.


Dedicado aos que levam o ódio como bandeira de luta.
RJ, 22/03/2015

Marllon Uaki Furtado