AMANHECER-SE
Apropriar-se de verbos impessoais é o que nos resta quando, mesmo com
tamanha riqueza de nossa língua, nos faltam palavras para expressar sensações
não contempladas na finitude do vocabulário oficial.
Por isso, entendo Manoel de Barros que, de alma cheia na infinitude das
percepções poéticas, não se intimidou de pegar-lhe emprestado o que lhe
aprouvesse para externar tanta beleza encarcerada em adjetivos ou verbos
limitados.
Talvez seja essa a inquietude poética mais bela que nos faz lançar mão
desse recurso lingüístico, seqüestrando palavras de seus significados
originais, a serviço da poesia.
Com essa licença poética, não deixamos escorrer por entre os dedos
sensações ou inspirações que nos acometem diariamente e que rogam por ganhar
corpo por intermédio desse sujeito capaz de expressá-las unicamente por sua
beleza de ser.
Por isso, hoje me permiti me amanhecer aos primeiros raios de luz do Sol,
me reflorestar no contato com a grama verde, me renascendo de tudo que precisa
morrer diariamente, para que algo de bom possa sempre estar se renovando em
mim.
É a energia necessária de que preciso para me amanhecer todos os dias,
não só para simplesmente existir, mas principalmente para viver.
Que não nos falte o alimento necessário para isso.
Manhã de domingo em
Praia Brava, Angra dos Reis, em 22/11/15.
Marllon Uaki Furtado