terça-feira, 11 de setembro de 2012

INVASÃO INSÓLITA


Invasão insólita

Essas abusadas não me pedem licença. Saem entrando porta adentro,  invadindo meu ser, sem a menor cerimônia.

Quando um dia penso em chamá-las, elas não vêm. Parece até que fazem de propósito pegar-me de súbito. Não aceitam convite antecipado, muito menos recomendações de etiqueta.

Às vezes, estou em algum lugar supostamente inapropriado, e elas me catucam, me provocam, até que eu reaja a elas, dando-lhes corpo.

Mas, por mais inconvenientes que sejam, sabe que até aprecio esse seu modo de ser! Afinal, já me acostumei às suas visitas desavisadas.

E um dia, quando ouso esperá-las pegar-me supostamente de surpresa, elas percebem minha maldade e ainda tiram sarro da minha cara, deixando-me ansioso e frustrado por sua falta.

Acho que seu prazer está exatamente aí, como num coito não permitido, algo inicialmente violador, mas que se revela capaz de dominar e obter sua tácita aceitação, permeada inclusive pelo desejo.

E acabo me rendendo a elas, dando-lhes, ao final, o que querem.

E assim vou levando minha vida de frequentes abusos, sem que nada se possa fazer contra essas danadas letras que me inundam.
 

Em homenagem aos pobres poetas violentados diariamente.

                                                                                        Marllon Uaki Furtado

 

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