Tenho uma língua muito afiada
Mas, cheia de regras e normas
Cheia de vontade própria
Não sei se mando nela
ou ela em mim
Posso eu desafiá-la? Afinal de contas, a língua é minha!
E se ela é minha, faço dela o que eu quiser, certo!?
Ou não?
Não sei. Quem saberá?
Às vezes, me pergunto:
- Por que me dominas assim?
Estou disposto a quebrar as algemas
Daqui pra frente serei livre
Mostrarei a ela quem manda no pedaço
Mas, o que diriam meus mestres,
meus filhos e amigos,
se um dia me permitir ousar?
Quer saber? Não me importa.
Minha língua sou eu
e eu sou assim, caótico.
Não sou sistema, nem pacote
Enciclopédia ou dicionário
Receita ou bula de remédio
Sou pessoas, sou culturas
sou cidade, sou sertão
não sou estático,
sou interação
Vou usá-la ao meu bel-prazer
Assim como me convier
Usá-la para o prazer da convivência
Deliciar-me-ei em suas profundezas
becos,esquinas, pontes e vielas
farei dela mocinho e bandido
de acordo com cada história
Usarei metáforas e eufemismos
alegoria e neologismo
ironia e pleonasmo
cada qual, um orgasmo
Assim, serei eu
Uma eterna festa de Baco
Me embriagarei com as palavras
Me afogarei em minha própria língua
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