terça-feira, 15 de novembro de 2011

VIDA E MORTE: SEVERINO

 Vida e Morte: Severino

O meu nome é Severino
Sou homem muito comum
Trabalho seis dias na semana
Descanso em apenas um

Vim das terras lá de riba
Não pude muito estudar
Só desci para o Sudeste
Pra mode a vida mudar

Disseram que aqui é bom
Tem trabalho pra toda gente
Basta apenas você aceitar
Que com pouco você se contente

Desde sempre fui muito pobre
Isso pra mim não é novidade
Então resolvi encarar
O que me reserva essa sua cidade

E fui logo dando meu jeito
Procurando o que fazer
Em busca do pão do dia
Pois primeiro se há de comer

Meu escritório, a céu aberto
Meu emprego, informal
Meu salário, minha féria
Meu trabalho, manual

E na hora do recosteio
Fui parar numa tal de favela
E eu pensando que era tudo lindo
Que só tinha paisagem bela
Mas aqui fiz muitos amigos
Quase todos iguais a mim
Que vieram em busca da sorte
E só encontraram o mesmo fim

Do meu sonho não desisto
Vou lutar pra conseguir
Saio cedo todos os dias
Chego tarde só pra dormir

Mas no começo agi errado
Fiz algo que não convém
Me arrependo dos maus feitos
Hoje sou homem de bem

E é assim que vou vivendo
Dando duro na labuta
Uns me chamam de mané
Outros, de filho da mãe

E se a rima não rimou
É porque não tinha que rimar
Não permito ao ‘eu poeta’
O Severino esculachar

Mas o tempo não perdoa
Seja homem, seja menino
É por isso que agora estou
Face a face com meu destino

Um destino nada fácil
Para um cabra como eu
Que é da terra muito seca
Mas sempre temente a Deus

Mesmo assim não fui feliz
Meu sonho não realizei
Não comprei a casa própria
Minha vida não mudei

Só mudei de lugarejo
Meu destino me seguiu
E com ele a minha sina
Que um dia me atingiu

E a morte chegou cedo
Bem num dia de domingo
Na saída da favela
Na presença dos amigos

Cinco tiros me pegaram
Não deu nem pra refletir
Eram os homens do passado
Me cobrando o que fiz

Minha vida muito curta
Realmente pouca sorte
Uma história muito triste
Pouco tempo, vida e morte

Final feliz é pra novela
Meu poema é vida real
E é por isso que não receio
Terminar uma história mal

Essa foi a minha história
Pois a vida é mesmo assim
Para uns, história bela
Para outros, triste fim

                   Marllon Uaki Furtado

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